quarta-feira, 22 de abril de 2009

"O CÉU ESTÁ A CAIR"

Andava uma galinha a esgravatar na terra quando, de repente, pim!- Um pássaro lhe largou um inesperado presente no alto da cabeça. Que porcaria!

-Cocorocó! – Cacarejava ela, numa aflição.

- Caiu um bocado do céu em cima da minha cabecinha!

Abalou pelos campos fora, com medo que o resto do céu viesse por aí abaixo, aos trambolhões.

Encontrou um porco, debaixo de uma árvore, a comer bolotas.

- Ron, ron, ron! – Grunhiu ele, admirado.

- Porque foges tu, galinha?

- Caiu um bocado do céu em cima da minha cabecinha!

Temendo que o mesmo lhe sucedesse, o porco foi atrás dela.

Chegaram a um lago onde nadava um pato que, naturalmente, ficou espantado com aquela correria.

- Quá, quá, quá! Que aconteceu?

- Caiu um bocado do céu em cima da minha cabecinha! – Repetiu a galinha.

Para evitar semelhante desgraça, o pato saiu da água e juntou-se aos fugitivos.

Foram ter a uma rua onde estava um gato deitado ao sol. Este abriu um olho, espreguiçou-se e perguntou:

- Miau, miau, miau! Que aconteceu?

- Caiu um bocado do céu em cima da minha cabecinha! – Voltou a explicar a galinha.

O gato ficou com os pêlos todos em pé. Que horror! O melhor era escapar já dali com os outros três.

Pata aqui, pata acolá, acharam-se num campo onde pastava, despreocupado, um burro. Este, ao vê-los com tal pressa, ficou preocupado.

- Hihon, hihon, hihon! Que aconteceu?

- Caiu um bocado do céu em cima da minha cabecinha! – Disse a galinha.

O burro, ao olhar para cima, para as nuvens que se acastelavam, teve medo. Ai, se as nuvens e até o Sol tombavam em cima dele! De certeza que lhe amachucavam as grandes orelhas…

- Vou com vocês! – Resolveu, desatando a galopar.

Mas a galinha, o porco, o pato e o gato não conseguiam acompanhá-lo. Nenhum deles tinha jeito para atletismo.

- O melhor é saltarem todos para as minhas costas, ou não nos despachamos.

O gato deu logo um salto e instalou-se no pescoço do burro. A galinha e o pato bateram asas, tornaram a bater até que finalmente conseguiram voar até à garupa. O porco é que não arranjava maneira de subir. Foi preciso o burro deitar-se para aquele gorducho ser capaz de o montar.

Assim foram galgando montes e vales, atravessando campos e aldeias.

Passaram finalmente diante de uma quinta. De guarda estava um cão, que logo começou a ladrar.

- Ão, ão, ão! Que aconteceu?

- Caiu um bocado do céu em cima da minha cabecinha! – Contou, outra vez, a galinha.

Que perigo! O cão nas suas andanças, já tinha visto caírem maçãs das árvores, caírem bolas atiradas por miúdos, caírem perdizes em pleno voo, atingidas pelos tiros dos caçadores. Mas bocados do céu…

- Vamos esconder-nos debaixo da cama da minha dona. – Propôs ele.

- Aí estamos bem protegidos.

Assim fizeram. Como a cama era alta, enfiaram-se por baixo da colcha e adormeceram.

À meia-noite veio a velha senhora deitar-se. Ela bem queria dormir mas as pulgas do cão tanto lhe picavam que a desgraçada não tinha descanso. A coçar-se, às voltas, reviravoltas, acordou a bicharada.

Que grande barafunda! Na escuridão, todos se atropelavam, numa algazarra. Sempre teria caído o céu?

A galinha cacarejava,

O pato grasnava,

O porco roncava,

O gato miava,

O burro zurrava,

O cão ladrava,

A velha gritava:

- Que grande confusão,

Os bichos nascem do chão

Debaixo do meu colchão!

Luísa Ducla Soares – Contos para rir – Editora Civilização



Sem comentários: