quinta-feira, 4 de outubro de 2007

DIA DO ANIMAL

No meu tempo de infância, o percurso que fazia casa-escola e vice-versa era sempre na companhia de uma amiga, de dois ou três colegas mais velhos e um cão chamado Matateu que pertencia ao meu tio. Todos os dias úteis, em época de escola, atravessávamos uma quinta particular, passávamos por caminhos estreitos e em socalcos mas, também pisávamos a estrada de alcatrão. Percorríamos diariamente, a pé, um total de 10 quilómetros (ida/volta). Matateu, era um cão amigo, fiel e bom companheiro de escola. Instalava-se no recreio, durante as aulas. Quando saíamos da sala para brincar, refugiava-se à espera do toque de entrada... Não gostava de gritarias e algazarras de crianças! Regressava a casa no final do dia, fazendo-nos sempre companhia, durante quatro anos. À noite, Matateu dormia enroscadinho com um amigo, um lindo gatinho amarelo chamado Amarelinho. Eram os animais de estimação do meu tio Manel. Esta era a rotina diária do Matateu. Se ele soubesse falar como os humanos, muitas coisas tinha para contar...
Deixo-vos agora um texto que me despertou fazendo-me relembrar dos animais de estimação do meu tio e da minha rotina de criança.

O Tomba-Lobos
" O Tomba-Lobos é o meu cão. Anda sempre comigo e deve ser o único cão que assiste às aulas.
No primeiro dia de escola bem o quis mandar embora: fingi que saía da sala. Ele veio atrás de mim e deitou-se ao lado da minha carteira. Puxámos, puxámos: pelas patas, pelo rabo. Eu estava quase a chorar com medo que me mandassem embora. E cheia de vergonha! Logo no primeiro dia de aulas! Ora isto! Vai-te embora, Tomba-Lobos! E ele nada. Parecia que estava a dormir e nem olhava. Nessa altura a professora disse:
- Deixem lá! Talvez ele queira aprender coisas novas como vocês.
Eu nem queria acreditar no que ouvia. Foi uma festa nos olhos de todos.
A professora sorriu-me.
Eu, sorri-lhe.
O Tomba-Lobos abriu os olhos e, vejam este maroto, também a sorrir! A partir daí o Tomba-Lobos foi sempre comigo para a escola.
Quando chovia, punha-se a sacudir os seus grandes pêlos amarelos e molhava-nos a todos.
Quando fazia frio, estendia-se ao lado da secretária da professora, onde uma braseira de cobre, cheia de brasas vermelhas, aquecia a sala.
À hora do recreio, compartilhava dos nossos lanches e até havia quem já trouxesse pão a mais, contando com o Tomba-Lobos."

(autora: Maria Rosa Colaço
"Beija-flor" - Editorial o Livro)

1 comentário:

Anónimo disse...

É impossivel não ficar enternecido com a história. Eu também tinha um animal de estimação assim quando andava na escola. Só não ia comigo para as aulas, mas esperava-me todos os dias e lambia-me e miava como que a verbalizar os seus afectos. Era uma gata siamesa, que além de ser uma companhia excelente me ensinou de uma maneira muito peculiar a ter respeito pelos animais e a desenvolver uma coisa muito importante, responsabilidade e civismo.